ceci n'est pas un crâne
pois, é uma máquina fotográfica.
numa conferência a que assisti, Joel-Peter Witkin contou que, quando era muito pequeno, ia pela rua com a mãe quando se deu um acidente muito perto deles. a mãe largou-lhe a mão e ele, perdido no meio do passeio, viu uma bola a rolar na sua direcção. interessado, pegou nela e descobriu que afinal se tratava da cabeça de uma menina. Witkin disse que essa era a sua câmara fotográfica primordial, passando a ver o mundo através dos olhos da menina morta. Wayne Martin Belger parece ter levado essa perspectiva à letra no caso desta câmara, denominada third eye e feita a partir de um crâneo com 150 anos de uma menina de 13 anos. como para todas as suas câmaras, a técnica usada é a de pinhole, em que a luz passa através de um pequeníssimo orifício (o "buraco da agulha") para impressionar o filme na parte de trás da câmara, sem intervenção de lentes, em exposições que vão desde alguns segundos a várias horas ou mesmo dias.
as imagens são fiéis ao processo e Belger faz o seu melhor para criar uma confluência cósmica entre o assunto tratado e os ingredientes (ou relíquias) agregados para a manufactura específica de cada câmara diferente, incluindo uma diversidade de metais, pedras preciosas, ossos, sangue infectado com HIV, um pedaço do world trade center e o coração de um bebé. como ele diz, o ar que o seu tema respira é o mesmo que entra pelo pinhole e se mistura com a emulsão fotográfica. o meio confunde-se com o fim. é o que se pode chamar verdadeiramente de fotografia orgânica.