no porto

um brevíssimo apontamento para registar as minhas impressões da mais recente estadia na cidade. ainda mais que sítio de livrarias e cafés (daqueles a sério, onde se pode só tomar um), o porto está pejado de pastelarias. em certos bairros, é quase porta sim, porta sim, mas a oferta de produto está longe de acompanhar a proliferação de montras. não encontrei um único bom bocado. não me interessa se se faz ali ou não, se é típico ou não, com tamanha concentração retalhista deviam haver todos os bolos do mundo, ponto. ou pelo menos um bons bocados. e por falar nisso, notei com ainda mais força a humanidade das pessoas invictas. não é propriamente simpatia, que por vezes dá a mão à meiguice e zarpam as duas dali para fora a grande velocidade, mas mais uma certa compaixão (ou compreensão), sorriso triste feito de humildade e calor em partes iguais. não confundir com humidade e calor, que grassaram com agrado ao pé do mar. esta noção de humanidade é sempre escorregadia, porque o que somos nós senão humanos, que conhecemos senão o humano? parece-me por vezes que a tendência natural da sociedade é organizar-se de acordo com padrões de maximização de aproveitamento de energia e minimização de gestos ditos "humanos", paixões, pulsões, hesitações, perdas de tempo e portanto de energia. assim se diz que nos des-humanizamos. mas não será isso justamente a marca do sucesso humano? o aproximarmos-nos de um comportamento eficiente, robotizado, amoral, indispensável para acomodar tantos e cada vez mais de nós. para termos mais tempo para sermos humanos. se ainda nos lembrarmos como é e para que serve. tudo isto me lembra a distinção fundamental que um amigo fazia entre ser humano e estar humano. mas isso são outras conversas. e longe do porto.

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