the naming of cats

The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn't just one of your holiday games;
You may think at first I'm as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there's the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, or George or Bill Bailey -
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter -
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that's particular,
A name that's peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum -
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there's still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover -
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.

T.S. Eliot (1888-1965)

uma sugestão: daniela uhlig




foram os dois últimos desenhos que me conquistaram.

este livro pode salvar a sua vida (se estiver a fugir de zombies, por exemplo)


já todos sabemos que o futuro emana directamente do japão e portanto foi sem simulacro de surpresa que tomámos conhecimento desta utilíssima obra, de leitura obrigatória para quem se queira tornar super-humano, passando a conseguir correr mais depressa que zombies em perseguição (dos novos, que se mexem mais depressa que os antigos), ou para evitar que as feridas se tornem a abrir, ou para saber como regar as plantas quando se vai de férias, ou para curar os soluços, ou para fazer com que o resto de um sabonete se torne grande outra vez. tudo por exemplo.
(urawaza quer dizer truques secretos de estilo de vida ou cenas que só os espiões sabem quando têm de passar por pessoas normais. como eu)

vendo o meu computador, barato



é caso para dizer que o interface é a mensagem.

(e que o segmento dos sprays limpa-vidros deverá conhecer um notável crescimento nos próximos anos)

Gary Gygax - attacking the darkness













gary gygax foi um dos realizadores da minha vida. o que o tornou especial foi o facto de, ao ter imaginado (com Dave Arnelson) o Dungeons&Dragons, ter inventado um tipo de filmes onde eu podia entrar como actor. ou como co-argumentista. e mesmo como co-realizador. o senhor inventou os primeiros filmes open-source. a sensação única de estar à volta de uma mesa armado de lápis, papel e imaginação a ver desenrolar à minha volta uma história onde eu próprio sou uma das personagens principais (e portanto posso contribuir para o seu desenlace) é uma das definições de "excitação febril" do meu vocabulário lúdico. para mim, os jogos de personagem (mais conhecidos como role-playing games, antes de terem sido transpostos para aqui) consistem na forma mais pura de jogar - estamos em grupo (mas agimos individualmente), agimos e reagimos em tempo real (com a vantagem de se notarem os efeitos nos outros jogadores e no mestre de jogo), não há vencedores nem vencidos no sentido tradicional (apenas o cumprimento - ou não - de objectivos), a nossa iniciativa ou imaginação podem a certa altura ultrapassar a do narrador/controlador/criador da aventura (obrigando-o a, em tempo real, se adaptar à inteligência - ou burrice sem nome - dos jogadores), faz-nos ler com gosto (o jogo depende do embrenhar mais ou menos profundo em mundos imaginários tão minuciosos como o código de processo civil), torna-nos criadores de personagens a sério (com uma ligação emocional muito real), faz-nos questionar a nós próprios (sempre importante) e sobretudo torna cada sessão inesquecível (mesmo que se arrastem durante meses - ou anos).

agora que o mestre de todos os jogos nos deixou, vejam as notícias aqui, ou aqui, ou aqui; mais sobre ele aqui e aqui (longo); mais sobre rpg aqui .

Para os realmente curiosos (ou vagamente nostálgicos), aqui fica uma sessão, huh, típica de D&D.



por fim, para perceberem melhor a relevância do mestre, em especial na net, este excerto do artigo do economist:

"Today's world is a nerd's world, and Mr Gygax did much to shape it. Blockbuster fantasy films like “The Lord of the Rings” are produced and directed by people who grew up with the game. Computer games are part of mainstream culture; “World of Warcraft”, an internet-based D&D clone, boasts 10m subscribers. Many of the people who built the internet (and their fortunes) spent their childhoods playing the game. The entry for D&D on Wikipedia is twice the length of the article on Proust."

`nuff said.

vlob: anúncios

















eu sei, eu sei. mas gosto de anúncios.

a problemática da conjuntura ou as coisas

o tempo gasta-me. a memória lembra-se de mim. mas eu nem sempre me lembro dela.
e assim ponho-me a gostar de coisas
da grosse fugue, op.133 em si bemol, do cubitus, do feux, da laurie anderson, do herb ritts, do inertia creeps, do neuromancer, da mulher-armadilha, do aleph, do calvin e do hobbes, dos the the, da valentina, do undercurrent, da christy turlington, das ilhas phi phi
de que me lembro.

vlob: johnny lee e 3-d (rima em inglês)

por falar em 3-d, parece que o senhor johnny chung lee viaja no tempo ainda mais depressa que a björk e de certeza com menos meios. ultrapassem o aspecto tecno-nerd da cena e assistam à revolution being televised.
wii are impressed. (e isto também pode ser útil)

a ditadura da inércia

de caras, o melhor artigo que já li (não é que tenha lido muitos) sobre a questão da nossa sobrevivência (ex-questão ambiental) no único planeta que temos. o texto é tão claro, tão simples, tão positivo, que devia ser lido em voz alta em todos os parlamentos do mundo, para não falar nas escolas, igrejas, telejornais, por personagens de telenovelas em pleno clímax emocional e a meio dos anúncios de carros na tv. o grande problema, para não variar, é de mentalidade. é difícil acreditar que um pequeno (?) gesto da nossa parte possa ajudar a mudar o que quer que seja, mas "Sometimes you have to act as if acting will make a difference, even when you can’t prove that it will."

"Because the climate-change crisis is at its very bottom a crisis of lifestyle — of character, even. The Big Problem is nothing more or less than the sum total of countless little everyday choices, most of them made by us (consumer spending represents 70 percent of our economy), and most of the rest of them made in the name of our needs and desires and preferences."

"Cheap energy, which gives us climate change, fosters precisely the mentality that makes dealing with climate change in our own lives seem impossibly difficult. Specialists ourselves, we can no longer imagine anyone but an expert, or anything but a new technology or law, solving our problems."

"If you do bother, you will set an example for other people. If enough other people bother, each one influencing yet another in a chain reaction of behavioral change, markets for all manner of green products and alternative technologies will prosper and expand."

"But the act I want to talk about is growing some — even just a little — of your own food."

o primeiro acto de liberdade individual contra a ditadura da inércia pode começar por ser a leitura integral deste texto. coragem, não se vão arrepender.

não se admirem se vos sorrirem na rua sem razão

afinal pode haver mais pessoas a lerem este blob.

vlob: björk em 3-d!


sim, a nano-islandesa continua a viajar no tempo vinda do futuro e acaba de estrear em exclusivo no sítio da wired (só se pode ver mesmo lá) o seu mais recente vídeo, wanderlust, em três dimensões. são necessários os proverbiais óculozinhos sporting-benfica, mas para quem não os tiver à mão (eu usei os do meu black dossier, eheheh), o site dá instruções para construir uns num ápice. para quem não gosta destas modernices, há uma versão em 2-d - mas aviso já que se vão habituando, porque o cinema comercial vai passar a ser todo assim. avante com os bisontes!

uma sugestão: joão maio pinto





o blogue dele pode e deve ser visitado por estes lados.

imagens necessárias: Arbus


xmas tree in a living room in levittown, L.I., 1963, por diane arbus

porque é que alguém que dita não é um ditador?

os nossos imediatos parabéns ao antónio com A grande, que ganhou o campeonato da língua portuguesa na categoria de ter mais de 18 anos, ultrapassando dificuldades tão improbas como a bárbara guimarães e o seguinte ditado fedorento, que não resistimos a transcrever (favor ler em voz alta, para verem como é que é):

"Se a cabotagem teve exórdio plácido, depressa descambou. O folguedo da geronte durou três milhas, e ao cabo de quatro a longanimidade da minha tia estava transmudada em prepotência. A primeira, que era dada a aforismos quiasmáticos, sobre qualquer ocorrência soltava sibilinos anexins; a segunda, a quem a ictiofagia avivava eructações tonitruantes, esfuziava os viajantes com injúrias, sem fundamento nem a-propósito. Todo aquele que o doesto não aporrinhasse, o anélito nauseá-lo-ia."

na verdade, achámos o texto do valter hugo mãe mais árduo.

uma sugestão: katsuya terada




artista pluridisciplinar, terada trabalha em design (cinema, animação, jogos-vídeo), ilustração e (pouca) banda desenhada (destaque para Sayukiden, adaptação muito pessoal da lendária saga viagem para ocidente). conhecido sobretudo pela caracterização das personagens e dos monstros do anime blood: the last vampire. influenciado (também) por moebius e pela métal hurlant. de resto, um artista "rakugaki" assumido - o termo designa os desenhos que se estão sempre a fazer um pouco por todo o lado, sem grandes reflexões ou acabamentos, em cadernos de esboços ou guardanapos de papel.

uma sugestão: josé carlos fernandes





"José Carlos Fernandes é o caso mais sério da BD nacional."
retirado daqui.

"A sensação com que se fica é a de que as suas histórias valem por si mesmas; existirem na forma de pranchas ilustradas não passa de uma casualidade. Pode mesmo afirmar-se que em JCF a palavra vem sempre antes do desenho e o ficcionista se sobrepõe ao autor de BD, o que não impede que algumas das suas criações sejam modelos do que a nona arte pode e deve ser. Um exemplo: os seis volumes da celebrada série “A Pior Banda do Mundo”."
retirado daqui.

"Peça por peça, e agradecendo que substituam as notas por notas horríssonas da Banda, José Carlos Fernandes vai-nos ofertando cada nova história como se fosse a promessa de um final cabal e cheio de sentido, porém que cada vez mais nos afasta de um suposto centro, que nos fizesse sentir seguros. Quer narrativa quer existencialmente."
retirado daqui.

"Seductor malgrat la seva discreció, és un espectacle de la confirguración d'un mon irreal o multirreal, de la conjunció de la paraula i de la imatge per establir noves coordenades per a les activitats del humans, de la lúdica confusió entre exterior e interior, entre constatació física y recreació." (Avui )

"Intente imaginarse un brainstorming entre Kafka, Beckett, Borges, Calvino e Auster que fuera filmado en directo por David Lynch e inmortalizado por Magritte. Si lo consigue piense que antes estuvo ahí JCF como responsable de El Quiosco de la utopia, un fascinante cómic (...)." (Qué Leer #72)
referidas aqui.

além disto tudo, é simpático, percebe (e gosta) a sério de música e dá alguns dos melhores autógrafos do mundo.

trailer de homem de ferro vai ser longa-metragem!

a onion news network confirmou recentemente que o fabuloso trailer do homem de ferro irá ser adaptado a um filme de longa duração. a notícia causou sensação nos círculos mais intelectualmente desenvolvidos e diversos fãs manifestaram a sua profunda apreensão pela possível falta de respeito ao espírito da obra, como já amiúde tem acontecido (veja-se o que aconteceu com o 300). "se isto se vier a tornar uma trend, onde é que parará? será que não conseguem deixar os trailers em paz?", pergunta, emocionado, um professor de nano-semiótica aplicada que preferiu o anonimato. os produtores cinematográficos, garantem, contudo, que não há razões para apreensão, prometendo ser fiéis ao trailer e inclusivamente incluir a maioria dos diálogos na longa. mas uma notícia tão incrível tem de ser vista para ser acreditada.


Wildly Popular 'Iron Man' Trailer To Be Adapted Into Full-Length Film

ataque da X-Turtle!

o terror vindo de leste não cessa de nos surpreender. desta feita, um clip do poderoso "mutants" (título descoberto por um dos comentadores), uma mega-produção russa dos anos 80 de cinema verdadeiramente fantástico, com uma incontornável adição à galeria de monstros cinematograficamente modificados: a mega-tartaruga assassina!

nota 1: os russos podem não correr muito depressa, mas fazem portas sólidas.
nota 2: além disso, são muito susceptíveis (ver comentários).

mais uma capa


no seguimento do post anterior sobre capas, surgiu-nos mais este exemplo magnífico, do último livro de michael chabon, do artista jordan crane. apreciem.

julgar livros pelas capas









uma capa é o trailer silencioso dos livros. ela tem de dizer tudo de uma vez para atrair o potencial leitor, com recursos escassos para os parâmetros publicitários actuais. a capa tem de lutar contra a falta de tempo do comprador, a falta de notoriedade do autor e sobretudo contra os outros livros atafulhadamente vizinhos. tem de ser coerente, simbólica, informativa e sobretudo sedutora. muitas vezes tem de disfarçar a falta de qualidade ou elevar-se acima do género que resguarda. tradicionalmente, a capa tem uma missão: fazer com que as pessoas executem um movimento manual com duas partes distintas:
1. pegar no livro
2. folheá-lo ou virá-lo, para ler a contracapa (que faz parte integrante da capa, não esqueçamos) ou eventualmente as badanas.
aí se tem de completar o acto de sedução do possuidor latente, ao explicitar o conteúdo (e excitar a sua curiosidade ou determinação) mas sob a forma de desafio - a pessoa ainda não tem a certeza se vai gostar, mas está disposta a go for the ride. toda esta manobra de sedução me parece um pouco ultrapassada, no que se refere ao que considero ser o conteúdo de um livro. mas resta a parte da ilustração e essa pode valer por si, como já viram ali em cima. a pequena selecção provém deste site americano fascinante, que aconselho vivamente a visitar e onde podem encontrar informação sobre as imagens e muitas outras capas fabulosas. (porque não estarão lá portuguesas?)

uma sugestão: yock




não sei nada sobre o artista, para além do facto de ser japonês e de trabalhar em variações sobre o tema da colegial japonesa.

uma bolinha e cinco estrelas



dois pequenos jogos gráficos japoneses
um divertimento
um desafio
uma ilustração perfeita
do nome deste
blob


sigam a bolinha vermelha


cheguem às estrelas

There's no thief like a bad movie (Sam Ewing)

para manter este post o mais curto possível, remeto-os já para este excelente artigo de Joe Queenan no Guardian sobre a demanda pelo pior filme de todos os tempos, onde ele enuncia os rigorosos critérios por que se têm de guiar os candidatos ao lugar. " (...) a truly bad movie, a bad movie for the ages, a bad movie made on an epic, lavish scale, is the cultural equivalent of leprosy: you can't stand looking at it, but at the same time you can't take your eyes off it. You are horrified by it, repelled by it, yet you are simultaneously mesmerised by its enticing hideousness. A monstrously bad movie is like the Medusa: those who gaze on its hideous countenance are doomed, but who can resist taking a gander?"
entretanto, no sentido oposto, deixo-os com a mão-cheia de filmes de que mais gosto. não necessariamente aqueles que eu acho mais importantes, apenas os que são mais importantes para mim. sem ordem de preferência em especial (sim, eu sei, é aquela coisa das listas outra vez, mas foi irresistível).

1. citizen kane 2. os sete samurais 3. ivan, o terrível 3. morangos silvestres 4. blade runner 5. andrei rubliev 6. touch of evil 7. the philadelphia story 8. blue velvet 9. notorious 10. belle de jour 11. vertigo 12. kagemusha 13. lost highway 14. fight club 15. apocalypse now 16. crash (cronenberg) 17. m – matou 18. rashomon 19. a clockwork orange 20. 2001, a space odyssey 21. johnny guitar 22. cet obscur objet du désir 23. à bout de souffle 24. pierrot le fou 25. night of the hunter 26. nostalgia 27. rumble fish 28. the godfather 29. the godfather part II 30. oldboy 31. the draughtsman’s contract 32. 8 e 1/2 33. the shining 34. unforgiven 35. alien 36. memento 37. the matrix 38. dark city 39. the man who shot liberty valance 40. raging bull 41. the maltese falcon 42. donnie darko 43. le samouraï 44. 12 monkeys 45. os amantes crucificados 46. raiders of the lost ark 47. barton fink 48. annie hall 49. singin’ in the rain 50. confidential report 51. o sétimo selo 52. eraserhead 53. the hudsucker proxy 54. metropolis 55. stranger than paradise 56. peeping tom 57. professione: reporter 58. lawrence of arabia 59. the old dark house 60. dead ringers 61. the addiction 62. blow up 63. once upon a time in the west 64. taxi driver 65. chinatown 66. duck soup 67. ultimo tango a parigi 68. his girl friday 69. l’appartement 70. manhattan 71. l’année derniére à marienbad 72. the element of crime 73. the fifth element 74. le mépris 75. braindead 76. brazil 77. batman returns 78. the lord of the rings 79. ghost in the shell 80. near dark 81. der himmel über berlin 82. strange days 83. the sweet hereafter 84. requiem for a dream 85. dune 86. paris, texas 87. a princesa mononoke 88. funny games 89. kiss me deadly 90. rear window 91. the silence of the lambs 92. star wars 93. closet land 94. fallen angels 95. aliens 96. texasville 97. irreversible 98. a snake in june 99. pulp fiction 100. irma vep

diga-se de passagem que um top 100 é muito mais pessoal que um top 10.

feed ficcional: violência nas casas

"Pai de 45 anos abre fogo sobre familiares. Felizmente, o resto da família riposta à altura."

"Filha bate na mãe, que bate no pai, que bate na avó, que vai bater no cão recém-nascido. Animal perece. Vizinho coloca o vídeo no YouTube."

"Irmãos adolescentes insultam toda a família à mesa da consoada. Nada acontece."

"Professores reagem: não é isto que nós lhes ensinamos lá na escola. Os nossos alunos nunca reagiriam assim. Pelo menos não os que têm boas notas."

"Professores protestam contra a falta de qualidade da educação dada nas casas. Insistem para que se reforce a vídeo-vigilância doméstica."

"Comentário de morador anónimo: os meus sete filhos já estão a aprender Krav Maga para lidar com os primos."

linguagem máquina

quando nos atemos a um critério de descrição meramente funcional, a tendência é de subtrairmos o quociente valorativo ou subjectivo da acção ou objecto em causa. isto é especialmente verdade no caso de instruções ou processos técnicos, nos quais não têm lugar quaisquer considerações não-objectivas, permitindo o máximo de eficiência na comunicação (ao nível da quantidade e da rapidez da informação transmitida), sem perda de "energia". o exemplo mais apurado é a chamada linguagem máquina utilizada para "falar" com computadores (que se sabe terem relativamente pouca sensibilidade às nuances, por enquanto). fora desses casos mais estritos, contudo, a linguagem está pejada de factores emocionais, situacionais, simbólicos e subjectivos em geral, onde o píncaro pode ser atingido na poesia. ora, a língua inglesa é especialmente propícia a estes desvios linguísticos, graças à sua capacidade aglutinadora (gulosa, mesmo) e remisturadora de meias-expressões, que depois transforma em expressões completas novas (os phrasal verbs, por exemplo). assim, o inglês consegue "despir" uma descrição com extrema eficácia, removendo-lhe a roupagem emocional e deixando apenas ficar as indicações-máquina impessoalmente descritivas das várias funções em causa. a faceta mais visível desta possibilidade denomina-se linguagem "politicamente correcta", em que as referências directas "populares" ou recebidas historicamente na língua de forma natural foram sendo substituídas por alternativas mecanicistas e assexuadas (literalmente) para evitar qualquer conotação potencialmente ofensiva (definida por parâmetros e para fins desconhecidos por nós). desta forma, um livro deixou de ser vandalizado, para passar a ser enhanced by a contemporary expression of angst. uma morte equivale a um negative patient care outcome. uma pessoa aborrecida é apenas charm-free e se for preguiçosa é, coitada, motivationally dispossessed. lembremos que uma bomba não é mais que um vertically deployed antipersonnel device, o que é útil em relatórios de situações de guerra.
tudo isto vem a propósito de uma expressão usada por representantes da google aquando da recente fusão com a doubleclick, em que se anunciavam as primeiras decisões de despedimentos da empresa. os visados seriam cerca de 300 funcionários da doubleclick e a expressão usada foi
"as with many mergers, this review has resulted in a reduction in head-count at the acquired company."a situação tradicionalmente descrita como "despedimento colectivo" é assim tratada como uma mera reduction in head-count, expressão numérica que efectivamente despersonaliza o evento, para mais como se fosse o mero resultado automático (e inevitável) de uma operação da tal "review". o politicamente correcto deixou de ser tão engraçado quando se tornou o newspeak das novas forças económicas, que estão a usar a linguagem para manipular a informação (a real), despindo-a de conotações humanizantes (e/ou sexuais, emotivas, ou outras que possam provocar estados mentais autónomos), como se estivessem a tratar com autómatos reality-impaired. ou seja, connosco. e para isso, nada melhor que a linguagem máquina do inglês, língua franca da rede, que tudo liga e tudo prende. atenção por isso à cognitive accommodation de que poderemos estar a ser alvo.



it's better than bad: it's good!

por razões de coerência editorial e após intenso debate da integralidade da redacção, foi decidido por maioria simples que era indispensável ao bem da nação nesta altura do campeonato relembrar aquela que foi por poucos considerada a maior série de têvê jamais passada na televisão. medimos as nossas palavras ao lhe atribuirmos o epíteto de "única". uma série que redefiniu géneros (sobretudo animais) e marcou a geração que via bonecos animados ao domingo de manhã no segundo canal para o resto dos seus dias, para gáudio e fortuna dos respectivos terapeutas. uma série que era mais do que uma série, era duas. desafiando rótulos, a sua melhor definição era "algo". algo de dimensão gósmica. algo que quando se vê nunca mais despega da retina da nossa memória individual e colectiva, por mais que usemos retro-despegador psico-retinal. algo que quando se ouve nos provoca terna saudade das otites pré-escolares. algo que quando se cheira, cheira mesmo mal. algo, enfim, que transcende o meio e a mensagem e nos alcandora ao nirvana da consciência universal absoluta, fazendo-nos repensar quem estamos, onde somos e porque raio não editam aquilo na versão portuguesa (nnho melhor ainda que a original).
falamos, naturalmente, de ren & stimpy.
aqui fica um pequeno lembrete sob a forma de dois maravilhosos anúncios e a imortal melodia da felicidade.





que fixe.

cérebro: a última fronteira



este artigo de clive thompson na wired sobre a "privacidade mental" cada vez mais ameaçada com as tecnologias emergentes de intrusão cerebral (dirigir queixas ao Centro para a Liberdade e Ética Cognitiva) é realmente perturbador e exigiria que começássemos a pensar e a tomar uma posição crítica sobre o assunto imediatamente.
felizmente que a maioria de nós não usa mesmo o cérebro.

excerto:

"We're going to be facing this question more and more, and nobody is really ready for it," says Paul Root Wolpe, a bioethicist and board member of the nonprofit Center for Cognitive Liberty and Ethics. "If the skull is not an absolute domain of privacy, there are no privacy domains left." He argues that the big personal liberty issues of the 21st century will all be in our heads — the "civil rights of the mind," he calls it.

___
"tension
apprehension
and dissension
have begun"

outra fotografia de um espartilho



We live only to discover beauty. All else is a form of waiting.



foto - mainbocher corset, 1939, por horst p. horst
citação - kahlil gibran, escritor e poeta

uma sugestão: nicholas gurewitch




nicholas gurewitch é o criador da perry bible fellowship, uma colecção premiada de tiras de bd (humorística, no sentido mais lato da palavra, abarcando piadas mortais) publicadas na net, em jornais e agora em livro, nasceu há estupidamente pouco tempo (em 1982) e é, aparentemente, um génio, o que poderá ser confirmado neste sítio.

das faq:

Why the name "The Perry Bible Fellowship"?
Probably the same reason Madonna goes by the name "Madonna": It's cool because you know she's not a Madonna. The comic is definitely not a Perry Bible Fellowship.

In all cases, I believe it's necessary for comedic pieces to bend our conception of life into loops and kinks; that laughter is a cough-like defense that occurs when a reader's cognitive facilities experience a sudden overflow of information -often in the form of a paradox, silly face, or boobie.


dos blurbs sobre o livro:

I've been reading this guy since his first strip in The Guardian and he's the best new cartoonist since Bill Watterson. This is the reason paper was invented. Give him your money now.

—Mark Millar (The Ultimate X-Men)

os meus contos da vida

acho que já se tornou relativamente óbvio que este blob se circunscreve tematicamente à dimensão do lúdico, minha versão. ou seja, trata do que me dá prazer ou desperta a minha curiosidade ou faz cócegas à minha perversão, ou... enfim, estão a ver a coisa. ora uma das coisas com que sempre tive uma relação ambígua de atracção é aquela mania de fazer listinhas dos top 10 (ou 1001...) dos filmes que mais se gosta ou dos livros, ou dos discos ou dos modelos de maçaneta de porta ou o que quer que seja que permita às pessoas fazer duas coisas simultaneamente: um exercício de selecção arquivadora necessariamente histórica (porque muda ou pode mudar consoante o momento em que é realizada) numa viagem à memória com grande gozo associado; e um exercício de vaidade (ou chamamento desesperado, um indicador para um débil auto-retrato), ao mostrar aos outros (às outras) o quão somos conhecedores/participantes dos prazeres da vida ao ponto de nos darmos ao luxo de até deles divulgar uma hierarquia, assim os controlando através do nosso gosto superior - esta projecção de índole social pode ser genuína (quando feita por pessoa de qualidade, com intuito pedagógico para as massas) ou apenas interesseira (impressionar as garinas, integrar-se numa tribo, arranjar emprego), representando naturalmente uma enorme vulnerabilidade, nem sempre percebida pelo próprio. em suma, atraindo-me estas listas (quanto mais temáticas melhor), sempre me pareceram foleiras e limitadas, pelo que o meu guilty pleasure (ou faute de gôut, conforme os dias da minha snobeira) se manteve relativamente privado. até hoje. mas à laia de auto-consolação perante a pulsão disseminadora, vou começar não por uma lista de livros (toda a gente faz, pff), mas de contos ou histórias curtas que me tenham marcado ao longo da provecta vidinha. sem ordem, sem data, sem justificação. e sem serem 10. apenas histórias de que lembro, hoje. por alguma razão.

as ruínas circulares, jorge luis borges, ficções
we, in some strange power's employ, move on a rigorous line, samuel r. delany, aye and gomorrah
neighbors, raymond carver, will you please be quiet, please?
l'école la nuit, julio cortázar, heures indues
the ones who walk away from omelas, ursula le guin, the wind's twelve quarters
kaleidoscope, ray bradbury, the illustrated man
johnny mnemonic, william gibson, burning chrome
of time and third avenue, alfred bester, virtual unrealities
the babysitter, robert coover, the granta book of the american short story
sredni vashtar, saki, the complete stories
casa ocupada, julio cortázar, bestiário
the soft weapon, larry niven, neutron star
there are more things, jorge luis borges, o livro de areia
o espelho e a máscara, jorge luis borges, o livro de areia
fidalgos, queques e betinhos, miguel esteves cardoso, os meus problemas
o almofadão de penas, horacio quiroga, contos de amor, loucura e morte
profissão, isaac asimov, nove amanhãs
night and the loves of joe dicostanzo, samuel r. delany, aye and gomorrah
tempo, miguel esteves cardoso, a causa das coisas
babelite ou segismondo o babélico, mário-henrique leiria, contos do gin-tonic

isto não fez mais que começar...
e os vossos?

no porto

um brevíssimo apontamento para registar as minhas impressões da mais recente estadia na cidade. ainda mais que sítio de livrarias e cafés (daqueles a sério, onde se pode só tomar um), o porto está pejado de pastelarias. em certos bairros, é quase porta sim, porta sim, mas a oferta de produto está longe de acompanhar a proliferação de montras. não encontrei um único bom bocado. não me interessa se se faz ali ou não, se é típico ou não, com tamanha concentração retalhista deviam haver todos os bolos do mundo, ponto. ou pelo menos um bons bocados. e por falar nisso, notei com ainda mais força a humanidade das pessoas invictas. não é propriamente simpatia, que por vezes dá a mão à meiguice e zarpam as duas dali para fora a grande velocidade, mas mais uma certa compaixão (ou compreensão), sorriso triste feito de humildade e calor em partes iguais. não confundir com humidade e calor, que grassaram com agrado ao pé do mar. esta noção de humanidade é sempre escorregadia, porque o que somos nós senão humanos, que conhecemos senão o humano? parece-me por vezes que a tendência natural da sociedade é organizar-se de acordo com padrões de maximização de aproveitamento de energia e minimização de gestos ditos "humanos", paixões, pulsões, hesitações, perdas de tempo e portanto de energia. assim se diz que nos des-humanizamos. mas não será isso justamente a marca do sucesso humano? o aproximarmos-nos de um comportamento eficiente, robotizado, amoral, indispensável para acomodar tantos e cada vez mais de nós. para termos mais tempo para sermos humanos. se ainda nos lembrarmos como é e para que serve. tudo isto me lembra a distinção fundamental que um amigo fazia entre ser humano e estar humano. mas isso são outras conversas. e longe do porto.

a entrevista tal como ela é



nota para futuros entrevistadores de televisão: aprendam com o senhor Mike Wallace, que nos anos 50 (1950) fez perguntas a sério (e obteve respostas sérias) na tv americana a pessoas como Frank Lloyd Wright, Henry Kissinger, Lili St. Cyr (a stripper mais famosa da américa da altura), Salvador Dali, Aldous Huxley ou Jean Seberg, entre muitos outros. reparem como os cigarros fazem parte integrante da conversa.

"Mike Wallace rose to prominence in 1956 with the New York City television interview program, Night-Beat, which soon developed into the nationally televised prime-time program, The Mike Wallace Interview. Well prepared with extensive research, Wallace asked probing questions of guests framed in tight close-ups. The result was a series of compelling and revealing interviews with some of the most interesting and important people of the day." (...) o resto aqui.

le roi est mort! vive le moi!

camaradas, é a revolução. nós morremos, eu nasci.
vamos ver quanto duro. não estou habituado a golpes de estado do ego. e há murmúrios nas sombras.