sou, logo penso
só aprendemos verdadeiramente quando fazemos as coisas por nós próprios, ou seja, percorremos sozinhos o caminho da inteligência (que é um e vários simultaneamente). isto aplica-se naturalmente aos nossos processos mentais, à forma como chegamos às coisas. o software, em geral, tenta acomodar os parâmetros mais gerais desses processos, replicando-os em certa medida, para optimizar a sua própria utilidade como ferramenta. um computador será assim tanto mais útil quanto mais se entender com a nossa forma de pensar. inversamente, se o nosso pensamento for parametrizado por ou seguir o software da máquina, estará a auto-limitar-se e a desperdiçar o seu potencial. as extraordinárias capacidades da máquina são-no precisamente por ampliar as da mente, não por tentarem reproduzir a sua personalidade (ela faz, não é). se a mente estiver subsumida à máquina, aos poucos vai deixando de ser mente, porque deixa de ter personalidade. a denominada inteligência artificial pretende apenas dar personalidade a algo que, por enquanto, apenas possui capacidade. por isso, não custa perceber as conclusões de um psicólogo holandês, quando diz que o uso da oralidade e da escrita directa (papel, caneta, lápis) - e não o de computadores ou software - promove a criatividade, a memória e sobretudo a actividade mental por oposição à sua preguiça. o cérebro trabalha bem e trabalha muito e sabe reconhecer quando alguém (ou algo) pode fazer parte do trabalho por ele; o que chamamos "preguiça", provavelmente ele chamaria de pragmatismo: o deixar de executar certas tarefas permite-lhe ir mais além noutras, eventualmente alcançar outro patamar de raciocínio - ainda conhecemos muito pouco sobre ele para percebermos o que se passa ao certo. mas se ele souber apropriar-se, embeber a utilidade intrínseca do software, a questão passa a ser - como bem diz o psicólogo - a necessidade de evolução no interface entre máquina e humano, ou seja, a forma como o software se deverá adaptar (sempre ele) aos processos neuronais, para melhor os servir. em termos de ensino, parece-me que o ideal, para mim, seria manter uma dose saudável de métodos de aprendizagem naturais - leitura e oralidade, com um tutor ou pelo menos poucas pessoas à volta - acompanhados lateralmente por software evolutivo/orgânico, que explorasse em paralelo outras zonas da mente. a ver vamos, como diria o cego.