big numbers

ultimamente, temos visto alguns números mesmo grandes invadir o nosso quotidiano, pouco habituado a lidar com tantos zeros à direita. tratou-se mesmo de uma espécie de chuva de meteoritos abstractos, já que a coisa começou no espaço e se veio espalhar no meio da nossa doméstica noção de escala. de memória, primeiro foi o nada, o Grande Vazio: uma zona no espaço que contém absolutamente zero, nem matéria normal, nem anti-matéria, não há lá nicles, patavina, peva, nem com o google a gente se orienta naquele nenhures; e mede um bilião de anos-luz de um lado ao outro. grandito, portanto. depois, claro, foi a máquina do fim do mundo, o Grande Desatomizador Suíço, mais conhecido como LHC, que nos trouxe números impressionantes: o do femtossegundo, por exemplo, que corresponde a um milionésimo de um bilionésimo de segundo (tempo médio de uma cópula bem sucedida entre um bosão e uma antipartícula; tempo que demorou durão barroso a ponderar aceitar o emprego em bruxelas), mas também a velocidade a que atira os coitados dos protões uns contra os outros - 99.99% da velocidade da luz - gerando um calor 100 000 vezes superior ao do núcleo do sol, e a própria dimensão da coisa - com 27 quilómetros de diâmetro, é a maior máquina do mundo. da ciência, saltámos para aqui, para a net, onde ficámos a saber que já existe (pelo menos) 1 trilião de rivais deste blob, o que, convenhamos, torna a questão da concorrência algo mais metafísico (fazendo bem as contas, é mais do que um site por habitante da Terra). finalmente, a economia, a ciência dos números com que realmente fazemos contas, acabou por nos trair e lançar-nos sem cerimónia na arena do impressionismo abstracto: das notas de 100 biliões de dólares do Zimbabwe (com a sua inflaçãozinha de 2,2 milhões percentuais por ano e único país do mundo onde um computador pode custar 1,2 quadriliões de dólares zimbabwenses), passando pelos já mui comentados 700 biliões de dólares (americanos, estes) para tentar salvar uma situação criada por senhores que não deixaram de ganhar os seus 480 milhões de dólares nos últimos oito anos, apesar de deixarem afundar a sua empresa, até um dos números mais difíceis de imaginar de todos (e não estamos a falar de partículas subatómicas no universo): os mais de 10 triliões de dólares da dívida pública americana (ao ponto do "relógio da dívida" existente em Nova Iorque para a ir acompanhando ter ficado sem dígitos suficientes para acomodar o novo número). são números grandes. tanto, aliás, que se tornam em entidades abstractas, descorporalizadas, aparentemente distantes de nós. no fundo, parece que apenas desse modo eles podem sequer existir. mas a distância real a que eles estão deve equacionar-se com este número final, aquele que se torna menos abstracto cada dia que passa. e que nos vai tornando abstractos a nós. klaatu barada nikto.