o futuro do livro é a nota de rodapé



pronto, já está. os livros estão safos. podem continuar a ser impressos em papel e a contribuir alegremente para a desflorestação da amazónia. e tudo por causa da net. mais concretamente, pelo exemplo que a net está a dar no que toca aos três géneros fundamentais da cultura da humanidade: a música, a ficção científica e os comics. claro. e como, perguntais vós? de que modo, inquiris? através de que fabuloso artifício ou artefacto, perquire a vossa mente irrequieta, agora insone de excitação antecipada? ora, a resposta está no título do post, gaita. a net vai constituir o complemento natural do livro através da sua capacidade ímpar de gerar e gerir notas de rodapé. pois é. para além dos inevitáveis e-livros, que já incluirão muitas notas, comentários, adendas, glossários, índices remissivos e possibilidade de ligação remota à web, a net por si só será o grande ponto na comédia imperfeita da vida - nos livros, enfim. que bela imagem. ou não. bom, estão a ver a coisa. mas se não a estiverem a ver, podem começar por ler este artigo providencial (num site dedicado sobretudo à f-c... por acaso) e, embalados por aquelas palavras proféticas, confirmar que a tal "coisa" está justamente mais avançada nos campos da mente humana onde se semeia mais, com sementes mais díspares e não-convencionais e onde elas dão mais fruto. tratam-se igualmente de áreas do conhecimento onde a maior parte das vezes convém saber por onde se anda, com o risco de afogamento lento do cerebelo nas areias movediças dos propósitos nefastos e imperscrutáveis dos respectivos autores - veja-se stockhausen, alan moore ou neal stephenson, por exemplo. mas estes campos experimentais são apenas arautos, indicadores do caminho a seguir. se a essência da nota de rodapé é, no fundo, ser infindável e exaustiva (nalguns casos almejando mesmo substituir-se completamente à obra que parasita), o seu caldo primordial por excelência é aqui mesmo, onde me lêem. esta solução é tão natural e óbvia que parece pateta afirmar que será por aqui que os livros prosperarão e se multiplicarão. mas não é. porque nada do que eu digo é pateta.
por enquanto.