american psycho

isto não é uma crítica. acabei de ver the dark knight e ainda é difícil ponderar devidamente sobre o que acabei de testemunhar - o que é sempre bom sinal. apenas os filmes que nos abalam são interessantes. e este é bastante mais do que interessante. gostaria de separar desde logo a figura de Batman do filme, ou seja, a personagem de BD tem uma história demasiado longa e já se formaram demasiadas opiniões sobre ela para essa discussão ser aqui relevante; interessa sobretudo ver o filme como ele é, para mais porque há muitos que não conhecem de todo a mitologia do cavaleiro das trevas.
sim, é verdade que o filme de Nolan não reconhece ao herói as suas dimensões pensante e detectivesca, delegando-as sagaz e respectivamente no Joker e em Jim Gordon, quanto a mim as melhores personagens da película, juntamente com Alfred e Rachel em suave segundo plano. Batman está despojado, mas não deixa de ser o catalizador e ponto focal de toda a história. uma história sem heróis. ou com heróis a mais. o filme está pejado de figuras e gestos heróicos, o menor dos quais não será a demonstração de amizade, mas no fim resta apenas Batman, tal um buraco negro que sugou todos os outros actos, todas as outras personagens para dentro das suas trevas. a personagem de Bob Kane criou uma dimensão própria, de espessura inaudita - única razão para explicar que os objectos de schumacher também lá pertençam - e é, para mim, a súmula do que deve ser um super-herói: o avatar do deus humano. para quem ainda não sabe, Batman não possui super-poderes. ele próprio é o super-poder. nolan não é suficientemente bom para carregar esta dimensão mítica na obra - são necessárias imagens específicas para esse fim e este filme é muito económico e pragmático para isso, apesar da sua longa duração; gostaria de ver o que um clint eastwood inspirado faria com o cavaleiro das trevas -, mas, como disse antes, separemos o filme do monstro.
e o que é melhor neste filme? desde logo, o som. esta é uma das grandes razões para se ir ao cinema hoje em dia e a banda sonora deste filme prova-o. depois, a duração. sim, é comprido, mas precisa desse tempo todo para nos fazer sentir devidamente as personagens, sobretudo Jim Gordon/Gary Oldman. depois, os actores. Heath Ledger, Gary Oldman, Maggie Gyllenhaal e Michael Caine. uma das coisas boas que o filme fez foi dar um pouco mais de tempo a Oldman e a Caine, e se Maggie não é uma Megan Fox, ainda bem. quanto ao falecido Ledger, digamos que criou um dos melhores vilões da história do cinema, adoraria tê-lo visto no arkham asylum. depois, mesmo que tangencialmente, o confronto entre a Seriedade de Batman e o Riso do Joker. se Aristóteles tivesse mesmo escrito um tratado sobre o poder do humor e do riso, o Joker teria sido um dos seus mais ávidos leitores - o seu riso mina as delicadas e tortuosas construções morais e só se aguentam as que são tão genuínas na sua obsessão como ele. é pena os diálogos não estarem à altura do desafio ontológico, mas compreende-se: afinal este filme sombrio e aparentemente niilista é para consumo das massas. apenas parece niilista porque aparentemente ninguém ganha, mas afinal é optimista porque soube entrever a natureza do super-homem (não desse, do outro) e ainda bem que ele existe (ou não).
por outro lado, é sempre gozado lembrar que o Batman é interpretado por quem já foi Patrick Bateman.

mensagem final, se ainda não perceberam: