a luta continua
longe de pretendermos parecer paranóicos ou apenas esquisitos, não resistimos a revelar aqui uma das maiores ansiedades que nos assola o espírito: a certeza quase certa de que os objectos inanimados se encontram em estado de revolução e que nos pretendem aniquilar na primeira oportunidade. aniquilar ou pelo menos amolar-nos o juízo de morte. os indícios estão por todo o lado e têm vindo a acumular-se com o robustecimento do seu índice de natalidade chinês. basta prestar atenção. vejamos: as coisas somem-se. misteriosamente, subitamente, com o maior prejuízo possível, a maior parte das vezes. e depois, quando reaparecem, se é que o fazem, é sempre nos locais mais improváveis e, de certeza, mais inatingíveis. o que prova que, ao contrário das aparências, os objectos têm movimento próprio - o que prova uma consciência de si mesmo e uma hostilidade tenaz. é que esta manifestação de inteligência inorgânica ainda é mais saliente quando reparamos na quantidade de acidentes - "acidentes"! - relacionados com objectos. dos mais variados, desde carros e brocas a obuses e catanas. todos estão juntos nisto, numa cumplicidade que causa estupor. até os mais inocentes, os que aparentemente terão sido manufacturados para fins benignos, se revelam capazes de instintos da mais torpe natureza. chupetas, por exemplo. estão sempre a cair no chão! debruçando-nos sobre este tema escaldante, estamos a conduzir uma investigação aturada sobre as prováveis causas do problema, vagamente dificultada pelo facto dos objectos se escusarem a responder às nossas perguntas, mas já chegámos a algumas conclusões, nomeadamente que se trata de uma questão de índole psicológica. um tipo de ressentimento. uma raiva impotente. um complexo, vá. e um vasto sentimento de superioridade de quem sabe que é muito mais numeroso que nós. temos consciência que corremos perigo. mas nós já os topámos.
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