o suicídio da fotografia de massas?


pois é. depois do telemóvel que filma, chegou a vez da câmara fotográfica que faz filmes - a expressão "câmara" ainda ficou mais ambígua.
a última fronteira foi franqueada, o derradeiro bastião submetido, o inner sanctum violado. será o fim do mundo tal como o conhecemos? bem, para mim a questão é a seguinte: ao trazer para dentro da D90, uma câmara de topo, a capacidade de filmar em alta definição, não estará a Nikon a assinar a sentença de morte deste tipo de máquinas para as massas? é que o que a malta quer é tirar fotografias-como-lembrança-de-um-momento... no seu telemóvel, que é mais barato e mais prático e tem cada vez melhor resolução - podem-se enviar as imagens imediatamente para amigos ou arquivos. para fazer filminhos, a malta não precisa de uma Nikon D90 e sim de uma câmara de filmar miniatura, barata e prática. o conceito de fotografia popular per se está a mudar - por exemplo quando nos lembramos das molduras digitais, que permitem slideshows (ou, porque não, micro-filminhos?) -, pois as pessoas não estão interessadas na qualidade da imagem mas sim na qualidade do momento que ela ilustra - obviamente que mais realista, se a imagem for boa, mas não é esse o objectivo primário, isso vai-se tornando numa condição prévia. por isso, parece-me que será mais fácil as pessoas adquirirem engenhos de filmar pequenos e baratos (usando o telemóvel para as imagens fixas) do que usar uma SLR para fazer filmes (apesar de ser tão bonita...) - essas deviam ficar para os profissionais. ou seja, parece-me que a combinação fantástica câmara fotográfica/de filmar a este nível não vai resultar assim tanto, pois essas features querem-se em máquinas acessíveis. a fotografia-lembrança, quanto a mim, passou definitivamente para o campo dos dispositivos de comunicação móvel, o que se coaduna melhor com o seu espírito. a fotografia "a sério" permanecerá no reino das câmaras fotográficas - um reino diminuto, é certo, mas honrado. é que esta máquina acaba de mudar tudo, nada será o mesmo daqui para a frente. agora segue-se inevitavelmente a guerra das pilhas e da capacidade de memória e logo a seguir a da interconectividade entre plataformas, em termos de rapidez, facilidade e qualidade. ou seja, a guerra continua entre aparelhos e vamos todos acabar com um engenho do tamanho de um supositório que fotografa, filma, grava, edita, manda sem fios para o arquivo na net, classifica e ainda provavelmente dá uma opinião crítica sobre o trabalho. mas esses dispositivos usam os fotógrafos quando estão de férias ou com a família, não quando estão a trabalhar. e a ironia é que a Nikon nem sequer faz(ia) câmaras de filmar.